sexta-feira, 25 de junho de 2010

Corte Interamericana de Direitos Humanos condena Colômbia por morte do Senador Cepeda

Pelo caso Manuel Cepeda, o Estado deverá indenizar a  família e pedir desculpas públicas, de acordo com determinação da Corte Interamericana de Direitos Humanos. O Senador da União Patriótica foi assassinado por um grupo de sicários em 1994.

Corte de Direitos Humanos condena a Colômbia por morte de senador

País é condenado a indenizar a família e produzir documentário sobre senador Cepeda

AFP-
A Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou a Colômbia a indenizar a família do senador Manuel Cepeda Vargas, assassinado em 1994 por agentes do Estado, e a "conduzir com eficácia" as investigações para identificar, julgar e punir os responsáveis. 
A Corte, com sede na capital da Costa Rica, atribuiu ao Estado colombiano a responsabilidade pelo crime. Os juízes admitiram que os familiares deveriam receber a título de compensação de US$ 340 mil num prazo máximo de um ano.

Cepeda era o único representante no Senado da esquerdista União Patriótica (UP), organização política ligada ao Partido Comunista da Colômbia. O senador foi executado no dia 9 de agosto de 1994 em Bogotá, presumivelmente numa operação coordenada entre o Exército e esquadrões paramilitares de direita.

Colômbia terá de fazer documentário sobre o senador
Segundo as investigações feitas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), com sede em Washington, o assassinato de Cepeda teve como base um "processo de perseguição e repressão" contra os membros desse grupo político.

Embora o Estado colombiano tenha reconhecido parcialmente sua responsabilidade nos fatos, durante o processo, a Corte decidiu sobre uma série de medidas adicionais para restaurar "a honra e a dignidade" do senador; entre elas, a realização - na Colômbia - de um ato público de reconhecimento dos fatos.

O Estado também é obrigado a publicar no diário oficial e em outro de circulação nacional, de uma só vez, as partes substanciais da sentença, que poderão ser consultadas em um site oficial, durante um ano.
Além disso, em coordenação com os familiares de Cepeda, o Estado colombiano deverá produzir "um documentário audiovisual sobre a vida política, jornalística e o papel político do senador", e divulgá-lo em diferentes meios.

Triunfo ilegítimo do continuismo



Com o triunfo ilegítimo do continuismo repudiado pela abstenção cidadã, o país tem entrado em um processo de radicalição da luta política, no qual o povo será protagonista na primeira linha.

Toda a maquinaria do Estado, todos os recursos mafiosos do governo, suas armadilhas de fraude e corrupção, chantagem e intimidação, foram postos ao serviço da vitória do continuismo, buscando desesperadamente por essa via um escudo que proteja Uribe da iminente acusação do povo e da justiça, por sua gestão criminosa e de lesa pátria.

O regime de Uribe foi o mais sério intento de impor violentamente um projeto político de ultradireita neoliberal baseado no paramilitarismo. Seu governo passará à historia como o mais desavergonhado das últimas décadas, o mais assassino de sua população civil, o mais ajoelhado ante a política dos EUA e, por essa circunstância, o mais compulsivo provocador de instabilidade nas relações com os países vizinhos.

Durante seus oito anos governou a mentira, a falsidade, a manipulação e o engano. Uribe e o continuismo fizeram crer que sua política de segurança era de todos, quando em realidade, só protegia, mediante a repressão, o lucro de privilegiados setores inversionistas, que acrescentaram o desemprego e a pobreza. Fizeram crer que defender a soberania era entregar a pátria ao governo de Washington e converter a Colômbia em um país ocupado militarmente por uma potência estrangeira. Montaram toda uma farsa para possar de lutadores contra o narcotráfico quando o próprio presidente Uribe, o DAS e o general Naranjo, têm um largo historial que os vincula à máfia do narcotráfico. Dizem que no país não há guerra nem conflito armado, no entanto, há Plano Patriota e invasão ianque....

Segurança democrática são os falsos positivos e a impunidade. É poder eleger como Presidente ao ministro da defesa  que mais estimulou esses crimes de lesa humanidade. É repartir terras para o agronegocio paramilitar, porque esse sim tem músculo financeiro, enquanto os camponeses pobres no. E é subsidiar ou doar de maneira segura dinheiros do Estado aos empresários do agro que financiaram as campanhas eleitorais. Segurança democrática são as covas comuns com mais de 2000 cadáveres como aquela que existe muito perto da base militar do Município de La Macarena, no estado de El Meta e, são os mais de 4 milhões de camponeses deslocados violentamente pelo Estado. É mentir sobre o fim do fim da guerrilha bolivariana das FARC-EP e se preocupar pela vitalidade de uma organização que combate sem descanso pela Nova Colômbia como fica demonstrado pelos seus boletins de guerra do mês de maio do presente ano. Segurança democrática é cambiar a Constituição para que possa garantir interesses particulares, quando necessário e é ter uma espúria maioria no Congresso e desprezar a autoridade das Altas Cortes, com o aplauso e de seus politiqueiros incondicionais. Também, é repartir cargos na burocracia, recursos públicos e contratos e, aproveitar o governo para se enriquecer sem nenhum questionamento moral...

A vergonhosa defesa do militarismo oficiada por Uribe e seu chamado a criar novas leis em favor da impunidade dos militares anunciam o que virá durante o período presidencial de Juan Manuel santos. Sua cínica queixa e seu lamento falso sobre-protegendo um torturador-assassino, como Plazas Vega, os altos comandos militares e o ex-presidente Belisario Bentacur, responsáveis do holocausto do Palácio da Justiça, são patética evidencia de seu esforço por se blindar desde já, para evitar futuras acusações em sua contra. E, por suposto, como forma de atrelar o narco-paramilitarismo à direção do Estado, com garantias legais para desaparecer, torturar e assassinar opositores. O "foro militar" que Urbe reclama é patente de impunidade criminosa como o demonstra a historia recente da Colômbia.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Fafá fala de sua cidade

 
A cantora brasileira Fafá de Belém não só tomou para si o nome da cidade onde nasceu como é uma coleccionadora de histórias do lugar. "A lembrança mais remota da minha vida são os cheiros e os sabores de Belém", diz. "Ali existe uma overdose de paladares e uma variedade enorme de raízes, sementes, cascas de árvores e frutas que é preciso experimentar para depois reflectir."

Como toda a paraense, é capaz de viver em qualquer parte do mundo, mas 'leva' sempre um pouco do Pará consigo. "Eu posso estar no Rio, no Alentejo ou no Porto e na minha geladeira você vai encontrar ingredientes para fazer um vatapá. Dou um jeito de passar na alfândega levando o que preciso. Quando volto de Portugal também nunca deixo de trazer um chouriço escondido na mala", conta entre gargalhadas.
Um dos seus amigos na cidade é o chefe Paulo Martins, dono do Lá em Casa, restaurante que ela recomenda sem reservas. "Para vocês terem uma ideia do talento do Paulo, basta dizer que o catalão Ferran Adrià, que é uma estrela internacional, foi a Belém no final do ano passado para conhecer Paulo Martins e reverenciá-lo pelo seu trabalho de valorização da cozinha amazónica."
A cidade tem tradições só conhecidas de quem é de lá. Uma das mais inusitadas é o hábito de tomar sopa de tacacá às cinco da tarde, na banca da Dona Marina, e depois seguir para a sorveteria Cairu, que faz os melhores gelados locais. No périplo gastronómico de Fafá não podem faltar caipirinhas de taperebá e graviola nem sucos de frutas de murici, cupuaçu e graviola.
Além de oferecer mesa farta e exótica, Belém é uma cidade arborizada, com construções remanescentes do período colonial. Um dos conjuntos arquitectónicos mais interessantes é o complexo Feliz Lusitânia, premiado pela Unesco como exemplo de restauração do património. A cidade foi ali fundada pelo algarvio Francisco Caldeira Castelo Branco. Na praça é possível visitar a Sé, o Museu de Arte Sacra e o Forte do Presépio. Junto a esses monumentos fica o palacete das Onze Janelas, erguido por um senhor de engenho e que hoje é uma espécie de restaurante e bar, com música ao vivo, onde os embalos seguem madrugada dentro.
Imperdoável para Fafá é ir a Belém e não visitar a ilha do Marajó ou a ilha fluvial do Mosqueiro, a 70 quilómetros da capital, onde há chalés construídos pelos ingleses na época do ciclo da borracha. Entre os passeios obrigatórios, ela cita o Museu dos Minerais, com o seu jardim de pedras preciosas e o Museu Emilio Goeldi, fundado em 1866 por um grupo de intelectuais e naturalistas preocupados em estudar a fauna e a flora da região.
A festa popular mais importante é o Círio de Nazaré, celebrada no segundo domingo de Outubro, quando milhares de pessoas ocupam as ruas e os turistas esgotam todos os hotéis. Para Fafá, independentemente de qualquer roteiro turístico, é preciso ir a Belém com tempo "para assistir ao pôr-do-sol nas Docas, ver as crianças colhendo mangas nas ruas na hora da chuva e passar algumas horas no mercado Ver-o-Peso, junto ao rio, para descobrir o que existe só ali e que por isso é tão único e especial."
Na agenda da Fafá


Melhores restaurantes
- Lá em casa (Estação das Docas), Peixaria do Careca (Av. Alcindo Cacela, 4288) Manjar das Garças (Rua Dr. Assis, s/n, Parque Ecológico Mangal das Garças, Cidade Velha).

Estação das Docas - Antigos armazéns reformados, onde há vários restaurantes, bares, cervejarias, livrarias. Boulevard Castilho França, 707.

Livraria Jinkins - Perseguidos na época da ditadura, os donos conseguiram manter a livraria como um ponto de liberdade na cidade. Rua Tamoios, 1592.

Hotéis - Hilton e Crowe Plaza. Ela tem uma suite permanentemente reservada em cada um.
Mercado Ver-o-Peso - Ponto turístico às margens da Baía do Guajará, que engloba o mercado de peixe, cuja estrutura de ferro foi toda trazida da Inglaterra, e uma feira de frutas, raízes, sementes, legumes, que funciona ao ar livre.

O que comprar - Banho de Cheiro, perfume típico de Belém, feito com ervas amazónicas. Na Perfumaria Orion, Rua Frutuoso Guimarães, 270.

Produtos Juruá - Sabonetes, cremes, champôs, essências e óleos. Artesanato Juruá. Rua Deodoro de Mendonça, 319.

Show no Teatro da Paz. Incrível apresentação da toada Vermelho

terça-feira, 22 de junho de 2010

CQC - Deputado agride Mônica Lozzi



CQC de 14/06/2010
O deputado federal Nelson Trad agride Mônica Iozzi em Brasília. Absurdo a agressão e absurdo a irresponsabilidade dos deputados que assinam documentos sem saber o que estão defendendo.

Dunga em UM DIA DE FÚRIA!

domingo, 20 de junho de 2010

José Saramago, por Manuel Gusmão


No dia da morte de José Saramago, creio que este texto que o Manuel Gusmão escreveu para o 5dias será uma das mais simples e camaradas  homenagens, que se poderão ler durante os próximos dias. (Tiago Mota Silveira)

Saramago é um escritor que se conquistou a si mesmo, que encontrou a sua maneira em pleno percurso. Que fez o seu caminho, caminhando. A fase da sua obra que vai produzir essa maneira que muitos reconhecem como a marca da sua assinatura, vai de 1977, ano fecundo da narrativa em português, em que publica Manual de Pintura e Caligrafia, a 1981, ano em que sai a 1º edição da sua Viagem a Portugal. Entre esses dois anos e esses dois livros, Saramago publicara Objecto quase (1978), “O ouvido” integrado na obra colectiva Poética dos Cinco Sentidos (1979), Levantado do chão (1980) e duas peças de teatro – A noite (1979) e Que farei com este livro? (1980). Se é com Memorial do Convento (1982) que o seu êxito se torna uma evidência, inclusivamente à escala internacional é nessa fase (1977-1981) assistimos à descoberta e invenção do fundamental do dispositivo narrativo que o vai acompanhar ao longo da obra. Manual de Pintura e Caligrafia é na ficção, uma meditação sobre os problemas da representação; a dissociação entre representação e semelhança, preparando assim a desenvoltura na construção dos mundos narrativos na obra posterior. A Viagem a Portugal dá conta da espessura significativa da radicação no território pátrio da ficção de Saramago. Em Levantado do Chão, surge a famosa frase em que várias personagens, inclusivamente o narrador, podem falar; essa frase que é assim dita em diálogo, mostrando essa admirável evidência da socialidade da linguagem. Este romance dispõe já da construção de uma figura de narrador marcado pela “auralidade”, de uma frase articulada por um nítido ritmo sintáctico. E sobretudo começa a funcionar um princípio narrativo que parte de uma negativa ou negação imposta a uma história já contada pelos vencedores ou de qualquer fora por uma historiografia oficial. Essa negatividade marca a relação entre ficção e história no que se poderia considerar a primeira fase da nova maneira de Saramago. Nela conta-se sempre de outra maneira algo que já foi contado, designadamente porque se conta algo que nunca mereceu ser narrado, nomeadamente a história dos servos e dos que transportam a pedra e constroem Mafra. Assim é em Memorial do Convento, Em O ano da morte de Ricardo Reis, História do Cerco de Lisboa, O Evangelho segundo Jesus Cristo. Com A jangada de Pedra anuncia-se o que virá a ser um outro dispositivo narrativo, característico de uma segunda fase da maneira “Saramago” que se afirmará inicialmente em Ensaio sobre a Cegueira e Todos os nomes e continuará depois. A este novo dispositivo chamarei de alegoria do presente.
José Saramago morreu. Inicia-se o seu segundo combate ou uma nova fase do seu combate de há muito: a luta pelo reconhecimento pleno da sua obra. A luta pela conquista e fidelização de leitores, pela leitura e releitura dos seus livros. Mas não só dos seus, e sim pela leitura dos grandes do passado ou dos seus contemporâneos: Camões, O padre António Vieira, Almeida Garrett, Camilo e Eça, Jorge de Sena ou Rodrigues Miguéis, numa lista incompleta. Portugal é um país em que historicamente se acumularam atrasos culturais e uma enorme fragilidade das suas instituições culturais. Isso explica em parte que a morte de um escritor seja muitas vezes a sua entrada num limbo da memória, num período de descaso e de esquecimento. O Nobel que ganhou é em relação a esse comportamento do futuro uma protecção simbólica, é certo, mas não suficiente por si só. Um pouco por todo o mundo (não estou a exagerar) foi lido e amado por leitores que, em tempos de derrota e de solidão, reconheceram nele um dos seus, alguém que ocupava o mesmo campo social à escala planetária. Esse facto foi caricaturado por alguns, que atribuíram o seu sucesso a uma “conspiração internacional” de comunistas ou cripto-comunistas.
Agora que morreu, nós temos responsabilidades acrescidas nesse combate. E não é preciso “conspiração” nenhuma. Basta cuidar do nosso património literário e artístico. Ele permaneceu fiel à longa e denegada “tradição dos oprimidos” (Walter Benjamin). Nós que nessa tradição temos vindo, sabemos que a memória é uma condição do desejo de futuro; sabemos que o cuidar da memória integra o longo trabalho da emancipação. Eu sei que há quem deteste palavras como estas – memória, futuro, trabalho, emancipação – , mas que hei-de fazer, ó boas almas, é que ele era um dos nossos.


José Saramago, por Manuel Gusmão

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saramago


" A falsidade central deste modelo reside no fato de que o poder econômico é o mesmo que o poder político. O único antídoto para reverter esse mau funcionamento da democracia é construir uma sociedade crítica que não se limite a aceitar as coisas pelo que elas parecem ser e depois não são, mas se faça perguntas e diga não sempre que for preciso dizer não. Para isso, é urgente voltar à filosofia e à reflexão"

O Pig nada pode

O Partido da Mídia Golpista, sigla PIG, tenta a pulso levantar seu candidato. Mas faz água.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

NÃO AOS IDIOTS SAVANTS

Recomendo a leitura do belo texto de Belluzzo, chamando à reflexão sobre os rumos que queremos dar à sociedade que estamos a construir. Importante parar um pouco e pensar (alguns devem fazer  um esforço bem grande). Pensar no que é a nossa sociedade, como ela funciona. Será que ela pode ser diferente? Leia o texto de Belluzzo, vale a pena.
Aliás, o número especial da Carta Capital, Especial 600, trás opinião de variadas parcelas da sociedade: empresários, industriais, militantes, filósofos, sociólogos, artistas, ...


Temos de superar o velho desenvolvimento que admitia o avanço social como consequência natural do crescimento econômico
Luiz Gonzaga Belluzzo


EM 2003, todos auguravam um desastre para a economia brasileira, mas o que se observou foi a progressiva aceleração do crescimento do PIE num ambiente de baixa inflação. À sombra de uma política monetária bastante conservadora, o País executou uma política fiscal prudente e uma estratégia de acumulação de reservas, construindo defesas sólidas para prevenir os efeitos da crise. Isto foi proporcionado, já dissemos, por uma conjuntura internacional excepcionalmente favorável. 
 
Nesse ambiente benfazejo, a política monetária do governo Lula manteve a taxa de juros e o câmbio fora do lugar. Criou-se uma situação do tipo "há bens que vêm para o mal", ou seja, o câmbio valorizado era compensado pelos preços generosos formados num mercado mundial superaquecido e especulado.
Nessas condições, seria não só desejável, mas obrigatório, buscar uma combinação câmbio-juro real mais estimulante para a substituição de importações, o avanço das exportações nos segmentos de maior intensidade tecnológica e para o investimento em novos setores, mais dinâmicos. 
 
O crescimento da indústria é almejado porque impõe a diversificação produtiva e torna mais densas as relações intrassetoriais e intersetoriais, proporcionando, ao mesmo tempo, ganhos no comércio exterior e na economia doméstica. Esta façanha exige a elevação da taxa de investimento da economia dos atuais 20% para 25%do PIE. Mas isto não vai cair do céu. 
 
Em vez de papagaiadas ideológicas, o pragmatismo chinês tratou de compreender a natureza das forças que movem hoje as transformações do capitalismo. Sabem, ademais, que vivem em um mundo em que prevalece a assimetria de poder, não só político, mas econômico. A liberdade de gestão monetária capaz de promover a estabilidade do câmbio e dos juros depende, numa economia emergente de alto crescimento, da acumulação de reservas. Por sua vez, a acumulação de reservas, sem danos fiscais, só pode ocorrer com taxas de juro baixas. Esta é a regra do jogo hoje. 
 
Em 2008, o Brasil sofreu uma crise de confiança que se manifestou no encolhimento da liquidez no mercado interbancário e travou o crédito para empresas e consumidores. Isso impactou rapidamente o setor privado, que cortou drasticamente a produção corrente e, sobretudo, reduziu os gastos de investimento. 
 
Não há dúvida de que o Brasil foi beneficiado pelo comportamento das commodities, cujos preços não sofreram perdas consideráveis, como em outras ocasiões. O Brasil desvencilhou-se da crise porque o governo estava estava preparado e adotou as medidas anticíclicas corretas quando sobreveio a tormenta. O governo brasileiro reagiu com competência ao impacto da crise de 2007-2008. A ação das autoridades e dos bancos públicos foi decisiva para reabilitar o crédito, sobretudo mediante a compra de carteiras das instituições de porte médio e da ação tempestiva do BNDES na sustentação do crescimento do funding de longo prazo.

Mas essa foi uma ação conjuntural. Quais são os trabalhos a longo prazo? O Brasil sofreu perdas na composição de muitas cadeias industriais, como eletroeletrônica, bens de capital e farmacêutica. Os otimistas argumentam que, ainda assim, o País preservou uma fração importante do aparato industrial e, sobretudo, valeu-se do dinamismo do agronegócio, que respondeu muito rapidamente às transformações ocorridas na divisão internacional do trabalho. A ascensão econômica da China e dos asiáticos em geral, com dotações de recursos naturais diferentes da nossa. Mudou a configuração do comércio internacional.

A despeito dos benefícios, a nossa relação com a China, a exemplo, começou a ficar assimétrica: tornamo-nos fornecedores de commodities, dada a nossa grande e diversificada disponibilidade de recursos naturais. e começamos a perder começamos a perder espaço na esfera industrial, perder participação nos terceiros mercados, permitindo, ademais, um crescimento das importações que denotam a substituição perigosa da produção doméstica.

Está na hora de estabelecer critérios nas negociações que reequilibrem essa relação, pois não é possível um país de 200 milhões de habitantes sofrer uma perda industrial por conta de uma integração produtiva e comercial imprópria.

Alguém me perguntou outro dia o que o Brasil pretende do seu desenvolvimento. Vou falar, em primeiro lugar, da infraestrutura. Estamos diante de um binômio transporte-energia que não utiliza racionalmente nossa constelação de recursos e a distribuição espacial das atividades, cada vez mais descentralizada. O modelo da "automobilização" não tem futuro - nem mesmo com o carro elétrico -, porque sua reprodução tornará ainda mais dolorosa a vida urbana. O modelo também é inviável para o transporte de longa distância.

Mais importante do que a infraestrutura é definir o destino que pretendemos dar ao sistema educacional brasileiro, ao caminho que oferecemos aos cidadãos, do ensino básico ao superior. Não se trata apenas de abastecer adequadamente o mercado de trabalho. É importante, sim, formar mais técnicos e engenheiros, carreiras desestimuladas pelo baixo crescimento das últimas décadas. Mas, antes de tudo, é preciso conter a degradação que está ocorrendo em todos os níveis da educação no Brasil: a especialização precoce, em detrimento da formação cultural mais ampla e mais sólida, capaz de permitir a autonomia e a fruição da liberdade pelo cidadão. Pois não se forma um bom engenheiro se o profissional não tem noção do país onde vive, do mundo onde sobrevive.

Na verdade, está-se produzindo hoje, desculpem a expressão, uma geração de idiots savants, que se especializam no seu ramo de atividade e não têm a menor noção do mundo onde vivem. Comentei numa entrevista: basta acompanhar o que você lê na internet. É assustador. Isso demanda maior empenho, sobretudo das camadas "esclarecidas" da sociedade civil, na construção de uma política cultural compatível com a democracia de massas.

Assim, a infraestrutura, a educação formal e a política cultural são as três questões fundamentais. Temos de superar o velho desenvolvimentismo que admitia o avanço social e cultural como consequência natural do desenvolvimento econômico e nos perguntar: que sociedade desejamos? Os grandes autores perscrutaram a história para responder a questão: o que somos nós, os brasileiros? É hora de perguntar: que sociedade queremos?

Quando me refiro a uma política cultural, estou falando de uma integração do indivíduo, dos grupos sociais ao mundo contemporâneo; saber, afinal de contas,quais são os valores que queremos preservar. Imagino que sejam os mesmos que a modernidade colocou como um desafio para a nossa ação política: a liberdade, a igualdade e a compreensão.

O que estamos assistindo, hoje, desgraçadamente, no mundo inteiro e acho que no Brasil com mais intensidade, é um processo de obscurecimento, e nesse particular tem enorme importância o que queremos dos meios de comunicação de massa. Hoje em dia você tem um grande debate travado em torno da liberdade de expressão. A mídia, a grande mídia, sob a consigna da liberdade de expressão trata de impedir que se desenvolva o verdadeiro debate sobre o Brasil ou sobre os temas que afligem a humanidade. Contra esse controle, temos de lutar pela diversidade. Promover a diversidade é uma obrigação das políticas públicas: não deixar que o poder da informação, concentrado em poucas empresas, se transforme em censura da opinião alheia. Porque a internet ainda é uma caixa de ressonância da grande imprensa: os blogs e quejandos, em sua maioria, reproduzem o que a grande imprensa diz, na forma e no conteúdo, porque estão com a consciência crítica danificada.

O projeto da liberdade não pode, como dizia Adorno, se separar da questão da compreensão, do entendimento, da crítica e da capacidade de se formular projetos. E isso está bloqueado hoje, no Brasil, por conta da banalização da vida e da celebração das celebridades. Tudo está sendo feito para que a sociedade se transforme em uma massa amorfa que não tem papel nenhum a desempenhar na projeção de seu próprio destino. <.>

CARTA CAPITAL Especial 600 / 16 DE JUNHO DE 2010 , págs 48 e 49

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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Capitalismo_ Una historia de amor_ de Michael Moore_trailer


O Fascismo na Colômbia

Em meio da grande depressão econômica mundial dos anos 30 do século passado, surge o fascismo alemã, monstruoso engendro do capitalismo, que os dirigentes revolucionários e a intelectualidade mais esclarecida de aquela época definiram como "A ditadura terrorista aberta dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro", "a organização do ajuste terrorista de contas com a classe operária e o setor revolucionário dos camponeses e dos intelectuais".

Era a ditadura do setor mais reacionário da oligarquia financeira que conformava a elite monopolista da nação. Esse reduzido grupo encontrou em Adolfo Hitler o instrumento adequado para tratar de impor seu projeto de sociedade, obediente da disciplina social e trabalhista do capital corporativo, primeiro em Alemanha, depois, por meio da guerra, ao resto do mundo.

Para alcançar seus propósitos, os capitalistas alemães aproveitaram o ressentimento do povo germano frente às duras sanções do Tratado de Versallhes, imposto ao país pelos vencedores da primeira guerra mundial (1914 - 1918).

Os fascistas recorreram ao mais iracundo e cru nacionalismo. Proclamaram a superioridade da raça ária sobre as demais raças existentes, a necessidade de um "espaço vital" para Alemanha que lhe permitisse a recuperação de territórios e colônias de ultramar perdidas na primeira guerra mundial, prometeriam o melhor-estar geral e um império que duraria mil anos (O terceiro Reich), como recompensa à grandeza e glória alemãs que dominariam o mundo.

Mediante uma hábil e enganosa propaganda, fazendo uso da mentira e da falsificação dos fatos como seu principal instrumento, o Partido Nacional Socialista Alemã logrou o apoio não só do grande capital mas da mediana e pequena burguesia, de importantes setores de operários, camponeses, estudantes, jovens e populares para apoderar-se do poder em 1933.

"Uma mentira repetida mil vezes, termina convertendo-se em verdade" e "Calunia e calunia, que da calunia algo fica", foi a divisa que utilizou Goebbels, como chefe de propaganda de Hitler e que importou para Colômbia e repetia em seus discursos, um célebre expoente da ultradireita nacional que para a época oficiava como embaixador em Berlim: Laureano Gómez.

As potências capitalistas ocidentais viam em Hitler a pessoa indicada para atacar e destruir a Revolução Bolchevique que se desenvolvia dentro da antiga Rússia, onde o Estado de Operários, Camponeses e Soldados, tinha terminado com a exploração do czarismo e da aristocracia, e seu exemplo estendia-se sobre toda a face da terra ameaçando o império burguês.

A perfídia e o cálculo da reação mundial, que estimulavam o anti-comunismo de Hitler e a guerra contra o nascente Poder Operário com a secreta esperança de que o fascismo esmagara a revolução, haveriam de pagar-la muito caro os povos das diversas nações de Europa, Ásia, África e América Latina.

Finalmente, o Fascismo foi derrotado, mas nenhuma nação ou povo carregou com maior responsabilidade, nem aportou semelhante cota de sangue e sacrifício como o fez a União de Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), fator fundamental para a derrota do fascismo da Alemanha nazi.

Dos 52 milhões de mortos reportados oficialmente que ocasionou a Segunda Guerra Mundial, 27 milhões foram da União Soviética, dos quais 20 milhões eram população civil. Dos 70 milhões de feridos, 40 milhões eram soviéticos, 140 mil povoados e cidades foram destruídas, o 70% da economia dessa nação ficou totalmente devastada, milhões de viúvas e órfãos, epidemias, enfermidades e fome sem precedentes, sufriou a Pátria de Lenin.

Glória eterna a seus heróis e mártires deve-lhe a humanidade, ao primeiro país socialista do mundo, já que eles salvaram-la do extermínio em massa nos campos de concentração, ou da escravidão perpetua que pretendeu implantar o brutal imperialismo alemã no seu delírio pela dominação mundial.

Vencida Alemanha e seus aliados, o mundo e seu mesmo povo puderam conhecer a verdade sobre o horror praticado pelos fascistas: o aniquilamento nas câmaras de gás de milhões de judeus, ciganos, minorias étnicas, opositores políticos, portadores de necessidades especiais que a propaganda oficial negava sistemáticamente, ao igual que a existência de criminosos experimentos com seres humanos tomados como cobaias nos laboratórios, para provar as drogas que permitissem apoderar-se da vontade alheia, ou gases e químicos que servissem para seus fins de manipulação e extermínio.

Com certeza o nazismo foi derrotado e seus sonhos imperiais desapareceram, mas Europa inteira ficou convertida em um imenso cemitério e em um gigantesco campo de ruínas e de escombros.

Em lugares onde antes floresceram prósperas cidades ficaram as cinzas, só. No entanto, a ideologia e a prática do fascismo não desapareceram, mas assumiram novas formas nascidas da Doutrina da Segurança Nacional, uma concepção fascista do Estado, que considera o povo como "inimigo interno" a derrotar, já não, no marco de uma guerra mundial mas no cenário de cada país por separado.

A atual crise econômica que açoita o mundo e a chamada guerra contra "terrorismo", promovidas pelo governo de George W. Bush, assim como os contínuos massacres contra o povo palestino implementadas pelo Estado Sionista de Israel, nos lembram que o fascismo está vivo.

Em nossa América as ditaduras militares com Pinochet à cabeça, Stroessner, Videla, Pacheco Areco, Somoza e Fujimori entre outros, foram expoentes desse depravado sistema.

Na Colômbia, Álvaro Uribe Vélez com a promocionada "segurança democrática" e o chamado por ele "Estado Comunitário" tem remoçado a forma fascista de dominação em um país atrasado e dependente.

Uribe é o genuíno representante do capital monopolista financeiro - industrial crioulo, ligado às transnacionais, os grandes latifundiários, traficantes de drogas e outras máfias que têm usurpado todas as estruturas do Estado para colocar-las a serviço dos mesquinhos interesses de classe, desse reduzido grupo de bilionários, em contra dos interesses da maioria dos colombianos afundados cada vez mais na pobreza.

Tal como ocorria na Alemanha fascista, na Colômbia o povo está sendo exterminado, não com o silencioso gás envenenado, mas com o sórdido ruído das motoserras que despedaçam a vítima e aterrorizam a milhões de cidadãos. Os escuartejados são levados para covas comuns lotadas de cadáveres ainda sem identificar e como ocorria na Alemanha, aqui também o sinistro braço paramilitar que implementou o Estado para cometer seus crimes, utiliza fornos crematórios para não deixar vestígio algum para evitar que aumentem as estatísticas de mortos, desaparecidos, etc. e assim poder seguir enganando o mundo e ocultando aos colombianos a realidade nacional.

Por isso e para falsear a realidade, na Colômbia, os modernos Goebbels do regime, os José Obdulios, denominam "falsos positivos" os milhares de assassinatos cometidos por suas forças de segurança, por sua Gestapo, e lhe dão tratamento de "casos isolados"a aquilo que é em realidade uma política Estatal, pois obedece à conduta permanente do exército, da polícia e dos demais organismos punitivos do Estado.

Ao igual que a Gestapo e as SS, a polícia secreta alemã, o Departamento Administrativo de Segurança (DAS), conduzido e controlado diretamente pelo presidente Álvaro Uribe, organizou uma rede de mais de três milhões de informantes, para que espiem e acusem seus compatriotas a troca de miseráveis recompensas, grava as conversações das Altas Cortes de Justiça, de intelectuais e de jornalistas, realiza seguimentos e junto a alguns integrantes da Promotoria "montam" falsos processos contra seus opositores políticos, ou contra aqueles que criticam os desaforos del poder.

Similar a aquilo que faziam os "Camisas Pardas" na Alemanha hitleriana, as hordas Uribistas lincham moralmente ou assassinam os opositores ao regime.

Igual que na Alemanha do fascismo, na Colômbia, o governo nacional em aliança com os proprietários dos grandes meios de comunicação, convertidos hoje em verdadeiros departamentos para a propaganda oficial do regime, desinformam e mantém enganado o povo colombiano ocultando sistemáticamente as verdadeiras causas e a responsabilidade oficial e do Estado, em centenas de massacres, assassinatos seletivos, torturas, deslocamentos e desaparição forçada de pessoas, encarceramentos massivos de opositores, operações abertas e encobertas nos países vizinhos e assassinatos indiscriminados de humildes colombianos que são reportados como guerrilheiros mortos em combate.

A corrupção reinante que já toca até a mesma família presidencial, também é silenciada, ou maquilada, a simulação de atentados contra o Presidente, seus Ministros e o Promotor Geral da Nação, são tomados como pretextos para incrementar as medidas repressivas; todos os crimes e horrores que comete o "fascismo ordinário" do século XXI que se instalou na Colômbia desde a chegada ao poder de Álvaro Uribe Vélez e que pretende perpetuar-se através do fraude e da reeleção.

Colombia não é Alemanha, nem a economia colombiana pode se comparar com a do país européio dos anos trinta. E nosso povo encontra-se altivo e em plena batalha por derrotar o atual regime fascista, utilizando para isso todas as formas de luta organizada das massas até alcançar dito objetivo.

Tal como foi feito pelos aliados há 64 anos, em 9 de maio de 1945, quando derrotaram Hitler e sua horda de generais assassinos, o povo colombiano saberá encontrar os caminhos de unidade que possibilitem derrotar inexoravelmente os fascistas do século XXI que enlamam a dignidade da Pátria.

Temos jurado vencer e venceremos!

Estado Maior Central,  FARC - EP.

Montanhas da Colômbia, 31 de maio de 2009
  

PAZ NA COLÔMBIA

As FARCs: fator imprescindível à Paz
Hugo Gómez

Nenhuma plataforma política apresentada na farsa eleitoral que se deu em 30 de maio contemplou a abertura de negociações de paz com a insurgência. A interlocutora chave do chamado conflito armado não é mais que a expressão pura e dura da luta de classes, da confrontação antagônica, no terreno militar, entre o povo e a oligarquia. Isso ocorre porque as vias de solução dos problemas sociais e econômicos da classe trabalhadora, do campesinato e demais setores sociais não podem ser abordadas e resolvidas democraticamente pela via política, já que as instituições oligárquicas recriam e se apóiam na constituição burguesa colombiana.
 
Todos os candidatos à presidência da República Colombiana apostam na estratégia da derrota das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP).
 
As classes dominantes na Colômbia são caracterizadas por sua visão subjetiva, descolada e deformada da realidade nacional, que não as permite ver mais além de seus próprios interesses de classe. Sua condição humana corrompida, cínica e cruel, criminosa em suma, que tem sido demonstrada ao longo da tempestuosa história da Colômbia, a torna incapaz de perceber a incomensurável dimensão do sofrimento e dano irreparáveis causados pelas prisões, desaparecimentos, torturas, assassinatos de dirigentes populares, além dos massacres de populações inteiras.
 
Seu apetite desenfreado de enriquecer e seu ódio visceral do povo digno e trabalhador (que a censuram, ameaçando seu poder e prometendo privá-las de sua liberdade de explorar os trabalhadores e espoliar a nação), leva a consciência de classe ao paroxismo, privando-as de inteligência e lucidez para reconhecer, autocriticamente, sua grave responsabilidade nos atos genocidas. Essa privação também impede a abertura de canais legítimos que levem a uma paz real, pondo um fim definitivo a esse terrível período de morte e tragédia na Colômbia, em que os dominantes vêm sendo progenitores e condutores dessa barbárie.
 
Sua demente prepotência prega, antecipadamente, a derrota de seu inimigo, supervalorizando a força e a capacidade de extermínio de seus devastadores aparatos de guerra. Ao mesmo tempo, desvalorizam, equivocadamente, a capacidade e resistência militar daqueles que se armam. Portanto, parece que não podem atender e nem entender o enorme peso político da insurgência armada, que vem recebendo apoio e adesão da população colombiana, tanto no interior do país como no exterior, sendo reconhecida por destacadas personalidades e instituições livres de qualquer suspeita.
 
Ao mesmo tempo, vem sendo revelada à Colômbia e ao mundo inteiro a responsabilidade do governo de Uribe Vélez e de seu exército carniceiro na preparação e consumação de horrendos crimes de lesa humanidade já inocultáveis, perpetrados por grupos paramilitares; brotam na superfície a podridão dos crimes e corrupções dos "homens de Uribe", entranhados no governo, no Parlamento e nos órgãos da Inteligência, assim como dos grupos econômicos e oligárquicos ligados ao poder e à sua política de repressão e extermínio; se faz, cada vez mais patente, o real empobrecimento e até a mais absoluta falta de proteção social e miséria da maioria do povo colombiano.
 
Ou seja, vão caindo, uma a uma, as mentiras de crimes atrozes atribuídos à Insurgência, impulsionados pelo estabelecimento de ações narcoparamilitares colombianas através de campanhas de desprestígio e ódio às forças armadas populares, na busca para
 
justificar sua guerra de extermínio...
 
A oligarquia colombiana possui muito mais medo da paz que vontade de alcançá-la, principalmente se a paz solicitada pelo povo é com justiça social. A paz significa o fim de sua orgia de crimes e latrocínio, a perda de seu poder absoluto impune sobre a vida, os bens e a liberdade dos cidadãos indefesos, o fim de seus negócios com as transnacionais dos Estados imperialistas e a abertura do "julgamento universal", que os fará sentar no banco dos Tribunais pelas tumbas cavadas e os rios de sangue, que assolam toda a geografia da Colômbia. Ouça, Uribe!
 
No recente editorial da "Voz", órgão do PC colombiano, da semana de 5 a 11 de maio de 2010, Carlos Lozano expressava que "a paz negociada implica mudanças na sociedade: construir um novo país sobre bases sólidas, democráticas e de justiça social. É necessário fazer um pacto com os insurgentes e a sociedade colombiana, que deve ser parte ativa nos diálogos. Esse é o vazio existente na recente proposta da Igreja Católica, interessante, porém insuficiente".
 
O diretor do órgão comunista "Voz" reclama, com razão, que a insurgência seja "parte ativa" nos diálogos de paz. Essa busca histórica da paz está cheia de episódios em que é patente o protagonismo da insurgência, concretamente as FARC-EP, com assento próprio, indiscutível.
 
Em algumas declarações feitas ao jornalista Pablo Biffi, do jornal Clarín, em 16 de setembro de 1998, reproduzidas por Fidel Castro em seu livro "A paz na Colômbia", o inesquecível Manuel Marulanda dizia que "conforme a experiência acumulada ao longo de 40 anos de luta para resolver os problemas sociais deste país, é necessária a presença das FARC. Nós faremos um acordo em algum momento, porém, nossa armas têm que ser a garantia de que será cumprido o acordado. No momento em que desaparecerem as armas, o acordo pode ser derrubado. Essa é uma questão estratégica que não vamos discutir".
 
Nas vésperas das Conversações de Caguán, narra Fidel no texto citado, Raúl Reyes, então responsável pelas Relações Internacionais das FARC, durante sua estada em Cuba, transmitia aos companheiros do Setor de América do Partido Comunista Cubano, que "estão conscientes que este será o começo de um longo caminho que somente eles devem percorrer com os governantes de seu país. Sem dúvida, expressam que nunca aceitarão a desmobilização e a entrega das armas, mesmo que não alcancem os objetivos pelos quais vêm lutando".
 
Já ativada a Mesa de Caguán, encaminhada a busca de soluções políticas ao conflito armado, em referência à intermediação de outros países na construção da paz, Manuel Marulanda, reunido em seu acampamento com personalidades revolucionárias da América Latina, do Secretariado das FARC-EP e o emissário do Partido Comunista de Cuba, José Arbisú, avaliou como importante "o acompanhamento internacional que se faz neste processo, porém não quer cair na armadilha ocorrida em El Salvador e Guatemala". Pensa que muitas personalidades podem ajudar, desde que não parcialmente.

Mensagem aos navegantes da paz:

1º) Na solução política da guerra e promoção dos acordos de paz, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP) são fator imprescindível na pacificação e refundação política e institucional da Nova Colômbia e, ao mesmo tempo, garantia de primeira ordem do cumprimento dos acordos firmados.

2º) É fundamental à nova abertura do diálogo ou conversações de paz o seu reconhecimento como Força Beligerante, reclamada insistentemente pelas FARC-EP. Essa é uma condição sustentada com base nos princípios e normas do direito internacional.
 
Todo o peso da opinião pública colombiana e mundial deve se voltar para a consecução de tal objetivo e na exigência de sua exclusão da abominável lista de organizações "terroristas". É dessa maneira como a oligarquia colombiana e o imperialismo norte-americano e europeu estigmatizam, com prepotência e sem nenhuma legitimidade, o direito dos povos à rebelião armada.
 
jun/2010
Agência Bolivariana de Notícias (ABP)

A imprensa sabe muito bem quem joga rasteiro. .. Mais uma na mosca.

Lula a jornalistas: vocês sabem quem é que faz jogo rasteiro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje que "a história de dossiê" não nasceu dentro do PT. Sem citar nomes, ele disse que tem gente no Brasil que é especialista na prática de "jogo rasteiro" durante as eleições. “Eu participei de muitas campanhas e nunca fiz jogo rasteiro. Agora, tem gente que é especialista nisso no Brasil e vocês sabem quem são. Cada um faz a campanha que acha que deve fazer. Eu estou muito tranqüilo”, afirmou.

O presidente disse não saber quem está por trás dos supostos dossiês contra tucanos porque não tem "cara de investigador". Ele disse também que não vai ficar batendo boca com adversários e afirmou ainda que a candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, também não deve “ficar rebatendo” declarações do adversário tucano na disputa, José Serra. “Eu não vou ficar batendo boca com adversário. Nem eu acho que a nossa candidata tem que ficar respondendo o Serra”, afirmou.


Neste domingo (13), durante a oficialização da candidatura de Dilma Rousseff, Lula afirmou que o suposto dossiê contra o candidato José Serra é "jogo rasteiro" da oposição. "Serão três meses de muito trabalho, muita alegria, muita tensão e nós esperamos que nossos adversários estejam dispostos a fazer campanha de nível elevado e que não façam jogo rasteiro inventando dossiê todo dia", disse em seu discurso na Convenção Nacional do PT.

No início do mês, Serra atribuiu a existência de um suposto dossiê contra ele a Dilma Rousseff. O tucano relembrou ainda outros casos de dossiês contra o PSDB que vieram à tona em eleições passadas. "A principal responsabilidade por esse novo dossiê é da candidata Dilma Rousseff. Disso eu não tenho dúvida, assim como o principal responsável pelo dossiê dos aloprados foi o Aloizio Mercadante e como a principal responsabilidade por dossiês em 2002 foi do Ricardo Berzoini", afirmou o candidato do PSDB.

Minas

Sobre as eleições para o governo de Minas Gerais, Lula disse que gostaria que o ex-ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias (PT-MG) fosse vice na chapa do candidato do PMDB ao cargo, Hélio Costa.

“Se dependesse da minha vontade pessoal, se eu fosse mineiro e tivesse um voto, o Patrus seria vice do Hélio, porque a campanha é para ganhar as eleições de verdade”, disse.

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Do portal Vermelho

terça-feira, 15 de junho de 2010

Ensemble - Sa raison d'être - Clip


Sílvio Tendler - Carta ao Governo Israelense


Senhores que me envergonham:

Judeu identificado com as melhores tradições humanistas de nossa cultura, sinto-me profundamente envergonhado com o que sucessivos governos israelenses vêm fazendo com a paz no Oriente.Médio.

As iniciativas contra a paz tomadas pelo governo de Israel vem tornando cotidianamente a sobrevivência em Israel e na Palestina cada vez mais insuportável.

Já faz tempo que sinto vergonha das ocupações indecentes praticadas por colonos judeus em território palestino. Que dizer agora do bombardeio do navio com bandeira Turca que leva alimentos para nossos irmãos palestinos? Vergonha, três vezes vergonha!

Proponho que Simon Peres devolva seu prêmio Nobel da Paz e peça desculpas por tê-lo aceito mesmo depois de ter armado a África do Sul do Apartheid.

Considero o atual governo, todos seus membros, sem exceção,  merecedores por consenso universal do Prêmio Jim Jones  por estarem conduzindo todo um pais para o suicídio coletivo.

A continuar com a política genocida do atual governo nem os bons  sobreviverão e Israel perecerá baixo o desprezo de todo o mundo..

O Sr., Lieberman, que  trouxe da sua Moldávia natal vasta experiência com pogroms, está firmemente empenhado em aplicá-la contra nossos irmãos palestinos. Este merece só para ele um tribunal de Nuremberg.
Digo tudo isso porque um judeu humanista não pode assistir calado e indiferente o que está acontecendo no Oriente Médio. Precisamos de força e coragem para, unidos aos bons, lutar pela convivência fraterna entre dois povos irmãos.

Abaixo o fascismo!

Paz Já!

Silvio Tendler é cineasta, com vasta e respeitada filmografia: Jango; Encontro com Milton Santos; JK;  entre muitos outros

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Salve 14 de junho. Hoje nasceu el Che

O NASCEDOR
Por Eduardo Galeano

Por que será que o Che
Tem este perigoso costume
De seguir sempre renascendo?
Quanto mais o insultam,
O manipulam
O atraiçoam
Mais ele renasce.
Ele é o mais renascedor de todos!
Não será por que Che
Dizia o que pensava e fazia o que dizia?
Não será por isso que segue sendo
tão extraordinário,
Num mundo onde palavras
e atos tão raramente se encontram?
E quando se encontram
raramente se saúdam
Por que não se reconhecem?

Sindicalistas denunciam bases militares estrangeiras dos EUA na Colômbia e em Honduras


Escrito por Gonzalo Berrón e Alexandre Praça

O movimento sindical das Américas assinalou a presença de bases militares norte-americanas na Colômbia e Honduras representam um obstáculo à paz regional. O alerta foi feito durante a Assemblea Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) celebrada em Lima, Peru.

A delegação da Confederação Sindical das Américas (CSA) e do Conselho Sindical de Assessoramento Técnico (COSATE) recomendou à OEA que estabeleça um programa de desmilitarização estrangeira e a suspensão de novas bases militares na região. Sugere, além disso, que se estabeleça um cronograma para a retirada das bases.

A demanda sindical foi feita no domingo (6) durante o diálogo dos chefes de delegação dos países membros da OEA e os representantes dos trabalhadores. A 40ª Assembleia Geral da organização ocorre sob o lema 'Paz, cooperação e segurança nas Américas'.
Os líderes operários também se preocupam com a situação de violência antissindical na Colômbia e Guatemala. Em 2010, 28 dirigentes e ativistas foram assassinados na Colômbia. A Guatemala soma 42 assassinatos nos últimos dois anos. Nenhum dos criminosos foi sentenciado ou mesmo identificado.

A dirigente Hortensia Gómez, do Movimento Sindical, Indígena y Campesino Guatemalteco, denunciou o alto grau de impunidade, violência e perseguição aos sindicalistas em seus país. Hortensia declarou que as mulheres são ainda mais discriminadas. Por outro lado, Víctor Pardo, da Confederação de Trabalhadores de Colômbia, indicou que os direitos humanos deveriam ser parte fundamental da análise da OEA, “para além dos slogans”, comentou.

A declaração sindical enviada ao encontro da OEA reafirma que “o aprofundamento da pobreza e das desigualdades tem sido o caldo de cultura para o surgimento de fenômenos violentos” nas sociedades da América Latina. Contra essa realidade, os sindicatos exigem políticas públicas inclusivas e respeito aos direitos humanos por parte dos Estados.

Finalmente, os sindicalistas apontaram que a situação em Honduras segue sendo extremamente grave. O quadro se agravou desde a posse do governo de Porfírio Lobo com a escalada de assassinatos de jornalistas, camponeses, sindicalistas e defensores dos direitos humanos. “Além da violência e da ilegitimidade do governo golpista e seu herdeiro no poder, prolonga a instabilidade do país o da região. Isto deve ser condenado explicitamente pela OEA mantendo a suspensão de Honduras”, afirma a declaração.

O secretário geral da OEA, José Miguel Insulza, afirmou na reunião que o respeito aos direitos dos trabalhadores é um "aspecto fundamental da democracia" no continente americano. Um espaço de conversação entre a OEA e os trabalhadores ou seus representantes sindicais, insistiu, "nos parece fundamental".

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Cultures of Resistance -- Feature Trailer

O Brasil desponta

Moniz Bandeira: Brasil adquiriu dimensão econômica e política global

Em entrevista ao Portal do PT, o cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira elogiou a política externa praticada pelo Governo Lula. Segundo ele, se o Brasil quiser afirmar-se como potência econômica, terá de abrir espaço na política internacional.

“O Brasil alcançou uma dimensão econômica e política global que não mais pode eximir-se de qualquer envolvimento nas questões internacionais. Seus interesses tanto econômicos e comerciais quanto políticos e geopolíticos são globais”, destacou Moniz Bandeira.

Para ele, muitos setores da elite brasileira, diplomatas ressentidos e grande parte da mídia conservadora ainda têm “complexo de inferioridade político-militar, de natureza e origem colonial”, que ainda remetem à idéia amplamente difundida durante a ditadura militar de que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”

Na entrevista, Moniz Bandeira faz uma abordagem mais profunda do conflito entre Estados Unidos e o Irã, que envolve uma série de interesses norte-americanos com relação ao petróleo na região. Ele analisa também a questão do Oriente Médio, a crise na Europa e a atual situação política da América Latina e do Brasil, além de considerar importante e correta a intermediação do governo brasileiro nos grandes impasses mundiais.

Sobres eleições presidenciais deste ano no Brasil, ele afirma não acreditar numa eventual vitória de Serra, já que isso representaria um retrocesso para o país diante dos avanços alcançados pelo Governo Lula. "Suas declarações sobre o Mercosul, Argentina, Bolívia e a questão do Irã demonstram e comprovam o quanto é despreparado para assumir o governo de um país que emerge como potência econômica e política global", enfatiza.

Residindo atualmente na Alemanha, Moniz Bandeira é autor de mais de 20 obras, entre as quais Formação do Império Americano, Presença dos Estados Unidos no Brasil, bem como de Brasil, Argentina e Estados Unidos (Da tríplice Aliança ao Mercosul) e de O Governo João Goulart – As lutas sociais no Brasil (1961-1964), cujas reedições revistas e ampliadas estarão nas livrarias na próxima semana.

Leia abaixo a íntegra da entrevista:

Portal do PT - Com o senhor vê a questão do conflito entre os Estados Unidos e as outras potências com o Irã?
Moniz Bandeira - É uma questão muito complexa. A eventual ameaça do Irã é mera retórica. Uma vez que, efetivamente, parece muito difícil, por diversos fatores, recorrer à opção militar, o que Washington pretende, sobretudo, é debilitar economicamente o Irã, impedir seu desenvolvimento com o uso da energia nuclear e derrubar o governo de Mahmoud Ahmadinejad, antes da retirada de suas tropas do Iraque e, depois, do Afeganistão, o que será inevitável dentro de um, dois ou três anos. Teme que o Iraque, muito fragilizado pela guerra, e sob um governo chiita, caia na órbita do Irã, sob o domínio dos aiatolás chiitas, e ganhe maior preeminência no Oriente Médio, contrapondo-se a Israel e à Arábia Saudita.

A inauguração, em 6 de Janeiro 2010, do gasoduto Dauletabad-Sarakhs-Khangiran, ligando o nordeste do Irã com o Turquemenistão, afeta a estratégia global dos Estados Unidos. O Turquemenistão possui a quarta maior reserva de gás do mundo, e esse gasoduto, de 183 quilômetros e capacidade de transportar anualmente 20 bilhões de metros cúbicos de gás, é de fundamental importância para o abastecimento da China, permitindo que o Irã destine suas exportações para outros mercados.

Daí que Hilary Clinton continua a esbravejar, insiste nas sanções de forma a fortalecer seu poder de barganha, caso não consiga seus objetivos, e tenha de sentar à mesa das negociações. Mas não apenas os interesses dos Estados Unidos e das potências européias aliadas estão em jogo. Também a Rússia e a China estão envolvidas na contenda. Washington tentou alcançar um entendimento com a Moscou para isolar Teerã, nas negociações que almeja, mas suas tentativas até então falharam porque não deseja fazer-lhe concessões, especialmente reconhecer sua preeminência nos países da esfera de influência da extinta União Soviética.

Por outro lado, Moscou diz endossar as sanções propostas por Washington, já, aliás, muito abrandadas a tal ponto de serem ineficazes, a fim de alcançar um entendimento com Teerã em torno da eventual construção de um gasoduto, que desviaria do seu território para a Turquia o escoamento do gás natural dos países da Ásia Central – Cazaquistão, Azerbaijão e Turquemenistão – para o mercado consumidor no Oceano Índico e os países dos Bálcãs e da Europa Central e Oriental. A Rússia e o Irã controlam cerca de 20% e 47% das reservas de gás do mundo, respectivamente. Naturalmente competem e o Irã quer conter a presença da Rússia no Mar Cáspio.

A China também movimenta suas peças no jogo geopolítico, em que a Rússia e o Irã – e os Estados Unidos - disputam o controle dos fluxos de gás e petróleo da Ásia Central, i. e., da Eurasia, para o seu mercado. Ela deu um grande golpe geopolítico quando assumiu, com US$ 4,18 bilhões, o controle da PetroKazakhstan Inc e tentou adquirir a UNOCAL, a empresa americana, interessada na construção do oleoduto através do Afeganistão. E, em 15 de dezembro de 2009, a China National Petroleum Corp (CNPC) inaugurou o oleoduto, ligando o Cazaquistão ao norte da China. Há naturalmente diversos fatores em jogo difíceis de explicar numa entrevista.

A política externa brasileira implementada no Governo Lula tem-se destacado no mundo. No Brasil, enquanto alguns diplomatas ligados ao governo FHC e setores da mídia conservadora criticam o que consideram um distanciamento e até mesmo uma postura mais agressiva com relação aos Estados Unidos, outras vozes importantes saúdam este novo papel geopolítico desempenhado pelo Brasil. Que avaliação o senhor faz desse novo posicionamento do governo brasileiro no cenário internacional?
Há muitos setores da elite brasileira, inclusive alguns diplomatas aposentados e ressentidos, e grande parte da mídia conservadora, que ainda têm o complexo de inferioridade político-militar, de natureza e origem colonial, como observou o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães em sua importante obra Desafios brasileiros na era dos gigantes. Eles pretendem subordinar o Brasil aos interesses dos Estados Unidos. Entendem, como o estúpido e serviçal ex-chanceler no governo do general Humberto Castelo Branco, general Juracy Magalhães, que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Ignoram que o presidente Franklin Roosevelt só não conseguiu cumprir a promessa feita ao presidente Getúlio Vargas de colocar o Brasil no Conselho de Segurança da ONU devido à oposição da Grã-Bretanha e da União Soviética, porque percebiam o Brasil como satélite dos Estados Unidos.

Não obstante, mesmo quando dependia das exportações do café e estas do mercado americano, o Brasil sempre resistiu à predominância dos Estados Unidos, como demonstro documentadamente no meu livro Presença dos Estados Unidos no Brasil. O Barão de Rio Branco estreitou as relações do Brasil com os Estados Unidos, mas rejeitou qualquer subserviência, para a qual se inclinou o embaixador Joaquim Nabuco. Apoiou a oposição de Rui Barbosa à política discriminatória dos Estados Unidos, na conferência de Haia (1907), e declarou que “interesses superiores” levavam o Brasil a persistir na política de aproximação entre os dois países, “mas não somos amigos incondicionais, não podemos fazer sacrifício da nossa dignidade”.
Quando chefe da Missão brasileira na ONU, em 1947, Oswaldo Aranha, censurado pelo então chanceler Raul Fernandes de violar as “tradições diplomáticas” do Brasil, por não acompanhar os Estados Unidos numa votação para o Conselho de Segurança, respondeu: “A nossa solidariedade não pode ser nunca uma servidão” — escreveu a Raúl Fernandes. E acrescentou: “Não me prestaria a esse papel e, creio, nenhum brasileiro aceitaria essa missão.” Aranha considerava-se “amigo” dos americanos, “mas não caudatário do Departamento de Estado”, o que qualificou como “traição”. Esta lição de patriotismo é que os críticos da política exterior do presidente Lula devem aprender. Quem defende tal sujeição à política exterior dos Estados Unidos não está servindo aos interesses nacionais do Brasil.
O Brasil, se quiser afirmar-se como potência econômica, tem de inserir-se, soberanamente, e abrir o espaço na política internacional. Como várias vezes repetiu, na primeira metade dos anos 1970, o embaixador João Augusto de Araújo Castro, o Brasil “deve continuar a opor-se tenazmente a qualquer tentativa de contenção”, tanto mais que, no limiar de um pleno desenvolvimento econômico, o Brasil, dentre todos os países será acentuadamente mais prejudicado por uma “política de congelamento do poder mundial”. Esta, uma razão fundamental para que o Brasil não aceite, rejeite in limine o Protocolo Adicional ao TNP, que os Estados Unidos e demais potências agora lhe querem impor. É algo que atenta contra os interesses nacionais. O Brasil, como disse Araújo Castro, não pode aceitar limitações a qualquer aspecto do seu desenvolvimento econômico, “em homenagem a um duvidoso princípio de interdependência ou de supranacionalidade”. O objetivo primordial de sua política internacional – acentuou – é “a neutralização de todos os fatores que possam contribuir para limitar o seu poder nacional”. É isto o que faz o presidente Lula e terá continuidade com Dilma Rousseff, se eleita presidente da República.

Como o senhor vê a estratégia do presidente Lula de colocar o Brasil como protagonista em impasses internacionais delicados como é o caso da crise nuclear envolvendo o Irã?
A estratégia do presidente Lula está correta. O Brasil alcançou uma dimensão econômica e política global que não mais pode eximir-se de qualquer envolvimento nas questões internacionais. Seus interesses tanto econômicos e comerciais quanto políticos e geopolíticos são globais. Ademais, o presidente Lula e seu chanceler Celso Amorim, reconhecido mundialmente como extraordinário diplomata, estão muito bem informados do que está por trás da ameaça de sanções, com que os Estados Unidos ameaçam o Irã. Essas sanções são geralmente inócuas.

O Peterson Institute for International Economics, de New York, analisou os efeitos de mais de 200 condenações, e concluiu que, de cada 10 sanções econômicas e embargos comerciais impostos pelos Estados Unidos e seus aliados ocidentais a outros países, apenas três – e ainda assim parcialmente - alcançaram algum resultado. Somente os povos sofrem e os governos ainda mais se fortalecem. É o caso de Cuba, que sofre um rigoroso embargo há 50 anos; é o caso da Coréia do Norte; é também o caso do Irã. Saddam Hussein somente caiu devido à intervenção militar dos Estados Unidos no Iraque. E esta somente se efetuou porque o presidente George W. Bush sabia seguramente que Saddam Hussein não possuía as tais armas de destruição, que serviram como pretexto para invadir o Iraque. Certamente não passa despercebido ao presidente Lula que uma eventual ameaça nuclear do Irã, propalada através da mídia pelo governo dos Estados Unidos, envolve outros objetivos econômicos, políticos e geopolíticos.

Mas não somente por isso ele se opõe às sanções contra o Irã. O que está a defender são os interesses do Brasil, que já sofreram várias ameaças por causa do seu programa nuclear, desde quando o presidente Getúlio Vargas pretendeu desenvolvê-lo em 1953/1954. O Brasil pode ser o Irã de amanhã. E somente não foi porque Israel não está na sua vizinhança. Aos Estados Unidos não interessa que o Brasil, com a construção do submarino nuclear, tenha alguma preeminência no Atlântico Sul, onde já navega a IV Frota. Mas o Brasil precisa rearmar-se, reequipar suas Forças Armadas. A Amazônia e o litoral, sobretudo, onde foram descobertas as jazidas de petróleo pré-sal são pontos geopoliticamente muito sensíveis e não podem continuar vulneráveis. A Marinha de Guerra, a fim de patrulhar o extenso litoral do Brasil, necessita não apenas de um, mas de seis submarinos nucleares e, no mínimo, dezesseis convencionais. É necessário investir na defesa. As ameaças podem ser remotas, porém não se pode descartá-las.

Com relação ao conflito histórico entre israelenses e palestinos, de que forma um país como o Brasil, que é o exemplo de convivência harmoniosa entre povos, poderia contribuir no processo de paz naquela região? Os opositores do governo Lula alegam que o Brasil não deve se meter nessa “confusão eterna”. O senhor concorda?
Como já disse antes, o Brasil tem interesses globais e tais interesses implicam maior participação no processo de paz na Palestina. O Brasil firmou importantes acordos de cooperação tecnológica com Israel, defende sua existência como Estado, é uma realidade, e tem de contribuir de alguma forma para o processo de paz, como um Estado neutro, que mantém muito boas relações com os principais atores do conflito nessa região. Mas qualquer solução é difícil porque tem profundas raízes nas crenças religiosas tanto dos judeus quanto dos árabes. A razão termina onde começa a fé. E aí o problema demográfico assume um caráter político. Há cerca de 350 mil israelenses ocupando entre 4% e 5% do território da Cisjordânia ou braço ocidental do rio Jordão. Lá os israelenses assentados construíram cidades, implantaram indústrias e criaram universidades. Mas lá também habitam cerca de 2,5 milhões de palestinos, aos quais o governo da Jordânia cedeu o território, que havia sido antes, em 1967, conquistado por Israel. Todos, palestinos e árabes, consideram o território sagrado. Por outro lado, em Gaza, estão bloqueados cerca de 1,5 milhão de palestinos, sob o domínio do Hamas (Movimento de Resistência Islâmica), de orientação sunita, fundamentalista, que não aceita a existência de Israel, com uma população de cerca de 7 milhões, dos quais mais ou menos 6 milhões são judeus. De um lado, os judeus consideram a Palestina a terra prometida. Do outro, os árabes julgam sagrada toda terra em que Maomé pisou e, segundo suas tradições, foi na Coluna do Templo, em Jerusalém, onde Maomé subiu ao céu e voltou trazendo o Corão. Como se pode concluir, é difícil uma solução, senão impossível.

Outra marca da nova performance da política externa brasileira é o empenho do presidente Lula na construção de um sólido intercâmbio econômico, social e cultural com os países africanos. Ele gosta de destacar nesse caso o aspecto da solidariedade internacional para com os países mais pobres. Do ponto de vista histórico, qual é a importância dessa iniciativa?
O crescimento do intercâmbio econômico, social e cultural com os países africanos, promovido pelo governo do presidente Lula, é da maior relevância, tanto econômica e comercial quanto política. Se o Brasil, que tem afinidades éticas e culturais, com os países da África, sobretudo da África Ocidental, se omitir, a China avançará cada vez mais sobre suas imensas reservas de minerais, estenderá seu domínio, como tenta fazer também na América do Sul. A omissão deixa o espaço aberto para que a China, dominando a África e a América do Sul, obstaculize o desenvolvimento do Brasil como potência industrial e política global.

O Brasil também tem se destacado por articulações bem-sucedidas através da construção de parcerias comerciais e políticas com países em desenvolvimento. A parceria produtiva com a China, Rússia, Índia e África do Sul é um exemplo disso. Num exercício de futurologia, qual será o papel do Brasil na nova ordem mundial que se desenha a cada dia? A briga por um lugar no Conselho de Segurança das Nações Unidas é um bom caminho?
A política externa soberana é também um instrumento de expansão econômica e comercial. O fato de que o Brasil atualmente está a exportar mais para os países em desenvolvimento do que para os Estados Unidos e a União Européia, evitou que sofresse maiores conseqüências da crise financeira que eclodiu em 2007, abalando os bancos dos Estados Unidos e outros, e agora atinge não apenas os 16 Estados-membros da Eurozona, mas todos os demais Estados da União Européia. A Alemanha enfrenta as maiores dificuldades porque concentrou mais de 60% das exportações, o principal suporte de sua economia, nesses países e em outros do continente europeu.Quanto ao assento no Conselho de Segurança da ONU, velha aspiração do Brasil desde a promessa feita ao presidente Getúlio Vargas pelo Roosevelt, antes da Conferência de São Francisco, o Brasil deve continuar insistindo. O Conselho de Segurança, como atualmente se constitui com cinco potências com poder de veto, está obsoleto. Porém, creio que sua reforma somente ocorrerá em dentro de mais uma ou duas décadas, quando a crise econômica e financeira abalar ainda mais o poder político dos Estados Unidos.

Diversos países da União Européia estão passando por crises econômicas, como é o caso da Grécia, além de Espanha e Portugal estarem sob ameaça constante. Até mesmo superpotências como a Inglaterra estão sendo obrigadas a reduzir gastos drasticamente. Isso é sinal de a crise de 2008 não acabou? A Europa corre o risco de uma crise ainda mais grave diante das fragilidades do modelo capitalista?
A crise começou, realmente, em 2007, com a explosão da bolha do setor imobiliário dos Estados Unidos, aguçou-se em 2008/2009, com a bancarrota de Lehmann Brothers e outros bancos americanos, e depois entrou em sua terceira fase, atingindo os próprios Estados nacionais, como a Irlanda e a Grécia, entre outros da União Européia, que também se defrontam com graves problemas econômicos financeiros. A maior e mais grave ameaça consiste, porém, nos déficits fiscal, comercial e do balanço de pagamentos dos Estados Unidos, financiados pela China e outros países, que fornecem energia, commodities e manufaturas, e acumulam como reservas cambiais mais de US$ 4 trilhões, sem lastro. Essa é outra bolha inflada que um dia, mais ano menos ano, vai estourar, com as piores conseqüências para toda a economia mundial.

Como o senhor vê o atual momento político vivido pela América do Sul, a retomada da democratização e o novo modo de governar garantido pelo apoio popular nos últimos anos em diversos países da região?
É difícil, dado que alguns governantes estão a perder o apoio popular, na medida em que tomam iniciativas que vão muito além das possibilidades materiais do país. Isso gera problemas políticos que podem ameaçar o governo e as próprias reformas que empreenderam em benefício das classes mais pobres e menos favorecidas. Temos que esperar os resultados das eleições na Argentina e na Venezuela para ver que rumo vão tomar.

A vitória da direita no Chile suscitou o receio de uma reviravolta ideológica na América Latina, especialmente no Brasil, que terá eleições presidenciais este ano. A aposta dos conservadores contra o sucesso do governo Lula é o candidato José Serra, do PSDB. Mas as últimas pesquisas demonstram o crescimento da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, como já era esperado pelo campo progressista que apóia o governo do presidente Lula. O neoliberalismo ainda pode retornar ao poder no Brasil e em outros países da América do Sul?
Se eleito, José Serra, em termos de política econômica, voltaria certamente a promover os princípios neoliberais, inspirados pela caterva neoliberal e pelos elementos da extrema-direita que servem aos interesses dos Estados Unidos. Provavelmente, não daria continuidade ao programa de modernização e equipamento das Forças Armadas, paralisaria a construção do submarino nuclear, obedecendo às diretrizes ideológicas do neoliberalismo e ditadas pelos Estados Unidos. E em política externa seria um desastre para o Brasil. Suas declarações sobre o Mercosul, Argentina, Bolívia e a questão do Irã demonstram e comprovam o quanto é despreparado para assumir o governo de um país que emerge como potência econômica e política global. Não creio que possa vencer a eleição. Seria um enorme retrocesso.

http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/internacional-1/moniz-bandeira:-brasil-hoje-tem-uma-dimensao-economica-e-politica-global-5041.html

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