segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Política é Uma Merda!


Leila Jinkings
Ao chegar ao Beira, o boteco onde encontro os amigos para almoçar aos sábados, aguardavam-me na mesa de costume Lea, Eliana e Caroline. Não é clube da luluzinha, muitas vezes comparecem Ailson, Marton, Juary e outros colegas do sexo masculino.

Eliana, mal eu sentara, mostrou-me a mesa ao lado, onde uma galerinha tomava cerveja em meio a um animado bate papo. Eram jovens bem vestidos. Livros e cadernos em cima da mesa indicavam que vinham, provavelmente, de atividades acadêmicas. Com uma gargalhada, Eliana mandou que eu prestasse atenção à conversa: “Estão comentando os acontecimentos da semana e já saiu cada pérola que não dá para acreditar”.

Lea explicou que os quatro rapazes conversavam sobre a eleição do segundo turno que se avizinhava. Um deles, no entanto, mostrava-se enfadado dizendo que “política era uma merda” e que os políticos eram todos iguais. “É a personificação do analfabeto político do poema de Bertold Brecht”, disse Eliana exaltada. “Esse idiota não sabe, como o personagem de Brecht, que é a política que decide sobre coisas essenciais como a roupa que ele veste, a comida que come, os remédios e outros itens do dia a dia.”

“Pessoas que pensam como ele são os responsáveis pelo Congresso Nacional infestado de pilantras. São eles que votam por amizade (ou nem votam) e permitem a desinformação”, afirmou Lea. Eliana acrescentou que, ao agirem assim, essas pessoas permitem que não se avance na solução de temas importantes para a melhoria da sociedade, como a educação e a saúde. Assim, também a solução de problemas como a fome e a miséria, a prostituição, a exploração sexual de crianças e adolescentes e outras desgraças que afligem o mundo.

Caroline, sorvendo um delicioso suco de cupuaçu (era seu dia de dirigir), ponderou: “Meninas, convenhamos, há uma densa cortina, como uma névoa, que dificulta a compreensão dos acontecimentos. A mídia age como se tivesse a atribuição de produzir muitos analfabetos politicamente. Os jornais, a televisão e outros meios parecem dizer: ‘Caro leitor, ouvinte, espectador, política é um saco’”. Tratam de forma superficial e desinteressante os acontecimentos que seriam de interesse da sociedade. Caroline garante que os meios procuram tornar mais atraente aquilo que induz ao consumo e a interesses individualistas. “Expõe-se a fome e a miséria global como se fossem apenas fotografias e imagens, salvo raras exceções”.

Lembrei às amigas de que estávamos em eleições e a mídia paulista retrava bem a questão colocada por Caroline. Fazia campanha mal disfarçada para Kassab, o candidato de Serra. A questão da peça publicitária de Marta, na qual uma simples pergunta sobre o estado civil do candidato (que há quem afirme esconder-se no armário) provocou dezenas de artigos e comentários acusando Marta de homofóbica. Ela que sempre foi atacada por eles por sua luta pró-casamento entre pessoas do mesmo sexo. Um dos rapazes falara sobre o assunto, minutos atrás, retrucando a acusação do outro que defendia posição idêntica à da mídia paulistana. Não por acaso, o “analfabeto político”.

Olhamos para a mesa dos rapazes e eles já não estavam lá. Demos risada e brindamos a Brecht e a todos que lutam por uma comunicação democrática.
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